sábado, 9 de julho de 2011

Games não são torradeiras [ou: O que há de errado com os 'reviews']

Segue interessante matéria publicada no site KOTAKU:

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Super 8 é um bom filme, sob diversos aspectos. Eu gostei muito dele. O final fez minha mulher chorar, enquanto para mim pareceu só um pouquinho decepcionante. Um amigo meu, que nos acompanhou no cinema, depois ficou reclamando do roteiro. Meu cunhado implicou porque praticamente todas as cenas do filme têm o efeito de “lens-flare” – um questionamento válido.
Hoje, Super 8 está com nota 72 no Metacritic, o site que compila notas de avaliações pela internet. Um relativo sucesso – resultado condizente com um filme bem feito e com uma série de falhas.
Mas vamos comparar com L.A. Noire, um jogo que não me agradou. Minha mulher achou que ele tem um conceito interessante. Meu amigo adorou e está jogando pela segunda vez. Meu irmão disse que foi o pior jogo da vida dele, e já tratou de passar adiante.
L.A. Noire está com a média 89 no Metacritic. E isso não é uma nota condizente com as opiniões. Não pelas opiniões que eu tenho visto, pelo menos. Existe algo de errado com os reviews de games.
Cerca de um mês atrás, fui entrevistado pelo programa de TV Good Game  sobre o MetaCritic e a questão das críticas de jogos – por que as notas de games acabam sendo sempre mais altas se comparadas a música ou cinema? Os jornalistas de games são pressionados pelas produtoras para dar notas altas para jogos medíocres? Eu já sofri represálias por ter dado uma nota baixa? Quais foram as consequências… esse tipo de pergunta.
E durante a entrevista pensei comigo mesmo que o ato de “analisar” jogos – baseado em vários fatores, alguns sob nosso controle, outros, não – é um processo falido que precisa ser revisto do zero se quisermos que ele tenha alguma importância de verdade para os consumidores.

Porque, no estado atual, os reviews de videogame são praticamente inúteis.
Eu poderia passar horas detalhando a questão – a relação entre editores e produtoras, o preço dos jogos, as expectativas dos leitores, a linguagem que usamos, a questão do Metacritic… -, mas, em resumo, acho que tudo se resume na abordagem do assunto.
Precisamos começar a tratar os games como experiência. Não como um produto.
Os games são, por natureza, mais complicados que qualquer outra mídia. Existem muito mais fatores envolvidos no conjunto da obra do que em qualquer outro campo – mecânicas, visual, design. E com isso em mente, acho que os jornalistas, e os jogadores em geral, sempre tiveram a tendência de discutir os games como se falassem sobre uma TV ou um carro. Um jogo é “bem acabado”. As mecânicas são “sólidas”. Os reviews, então, são algo quase científico – cada elemento do produto é isolado e analisado como se estivéssemos falando de uma torradeira.
Mas um jogo não é uma torradeira. Ele não desempenha uma função de maneira clínica, ele não foi criado para fazer um sanduíche – ele é um jogo, é uma experiência.
Se L.A. Noire fosse uma torradeira, eu o recomendaria. Sem dúvidas. Seria uma torradeira que envolveu muito dinheiro nas etapas de produção. É algo, sem dúvida, bem acabado. Se eu desmontasse essa torradeira, veria que ela é feita dos melhores componentes que o dinheiro pode comprar. Cara, L.A. Noire seria uma torradeira incrível.
Mas L.A. Noire não é uma torradeira, é uma experiência. É entretenimento, é um game. Mas quando discutimos games, quase ninguém se preocupa em pensar dessa maneira. Por que não estamos fazendo perguntas como: ele faz sentido? Ele é empolgante? Alguém está se divertindo?

Porque, no fim das contas, L.A. Noire não é uma torradeira, assim como Super 8 também não é. Ambos são experiências subjetivas. Mas a diferença é: eu posso sair do cinema, visitar o Rotten Tomatoes e ler milhões de opiniões diferentes que refletem aquela experiência do filme. Mas não seria tão fácil fazer o mesmo com L.A. Noire.
Eu não gostei de L.A. Noire. Talvez seja injusto usar esse jogo como exemplo, mas vamos pensar o seguinte: Nick Broughall, ex-editor do Gizmodo Australia, acha que ele é o jogo do ano até agora, e muitos amigos meus concordam. Meu irmão? Não pode nem ouvir falar do jogo. E você, provavelmente, teve sua própria experiência, sua própria opinião.
E aí está o problema – os reviews que lemos sobre o jogo não refletem essa variedade. Eles convergem para uma conclusão clínica quase idêntica, quase universal. E isso torna essas críticas praticamente inúteis para mim e para você como consumidores.
Tem algo de errado nos reviews de games, e eu gostaria que isso mudasse.
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Mark Serrels é editor do Kotaku Australia, onde esse texto foi originalmente publicado. O Kotaku Brasil concorda com Mark e, enquanto prepara seu “guia de reviews”, gostaria de saber também sua opinião. Qual a importância de um review? O que você espera de uma crítica de jogo?"
FONTE: http://www.kotaku.com.br/conteudo/games-nao-sao-torradeiras-ou-o-que-ha-de-errado-com-os-reviews/#more-46936

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